segunda-feira, 17 de março de 2014

O sentir e o pensar do português não emigrante

Por mera coincidência, penso, acabam de ser divulgados dois estudos sobre os portugueses. Considero positivo a evidência de que, ao menos de volta e meia, se preocupem com o que sentimos e pensamos sobre a comunidade, residente em solo pátrio, decepada de milhões de emigrantes – de ambos os estudos, concluo que os que vivem lá fora foram excluídos.
O estudo do ‘European Social Survey’, conduzido por Pedro Magalhães e Marina Costa Lobo, do Instituto de Ciências Sociais, norteou-se pelo objectivo de fundo ‘medir a democracia’, tendo sido inquiridos 40.000 pessoas.
Com a representatividade que os 40.000 solidificam, fica a saber-se que os portugueses entendem que há falta de “controlo popular” do poder político, pedindo que a justiça seja mais equitativa – o ‘mais equitativa’ não entendo, ou há justiça ou não há justiça – combate à pobreza e às desigualdades sociais.
Com estas três referências, justiça, pobreza e desigualdade, pode considerar-se que, anonimamente, 40.000, e não apenas 74, produziram e subscreveram mais um manifesto de interesse colectivo. Com efeito, são áreas em que a governação de Passos e Portas tem agravado e de que maneira os problemas e dificuldades dos cidadãos.
Noutro estudo feito pelo Centro de Estudos e Sondagens de Opinião da Universidade Católica e pela empresa Ipsos Apeme, os portugueses revelam-se orgulhosos de o ser, mas sentem-se envergonhados pelo sistema político e económico. Curiosamente, e jamais poderia faltar aqui o cunho da UCP, ainda refere o Estado Novo, o fado, Fátima e futebol como elementos que unem os portugueses. A união nacional e o orgulho de uns são a vergonha de outros, mas estes últimos não foram ouvidos.
Se fizermos a junção das ilações permitidas pelos dois estudos, eu pela minha parte não tenho relutância em afirmá-lo, confirma-se a ideia de que vivemos num País tão contraditório e perturbado, próximo, muito próximo de ser um autêntico manicómio. Onde há doentes mentais para todos os gostos, dos manifestos, dos prefácios, dos anti manifestos, dos anti prefácios… e já agora dos posfácios, acrescento eu, porque, um dia destes, também surgirá talentoso pensador para contar por onde andámos, onde estamos e a que velocidade vamos esbarrar até cair para o lado nas paredes da falta de iniciativa colectiva, essa epidemia nacional, para cortar em mini-segmentos o arco do poder.

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