Imagem de '12 anos Escravo' |
‘Gravidade’, vencedor de 7 Óscares,
não me merece tempo de referência. Detesto o género, tenho apreço pelas
tecnologias, mas estou saturado do mundo virtual. Resolvamos primeiro o que é
terreno, real, onde há desigualdade, injustiça social e multimilionários
soberbos e os seus mais servis colaboradores (veja-se o ‘Lobo de Wall Street’
de Scorcese), de vida orientada pela ambição sem limites e pela avareza; onde
se junta o mais desumano desprezo pela pobreza, miséria e fome de milhões de
outros seres humanos, em expansão no mundo.
Satisfez-me saber que ’12
anos Escravo’ foi laureado como o melhor filme – Steve McQueen foi o primeiro homem negro a receber o Óscar da melhor produção, ao fim de 86
anos.
Igualmente sinto justiça nos
prémios de actor principal para Matthew McConaughey (emagreceu 23 kg para desempenhar o papel) e de actor secundário para Jared Leto, ambos no ‘Clube de Dallas’.
São histórias distintas. Em ’12
anos Escravo’, inspirando-se em história real e livro escrito por quem foi alvo
dessa escravidão (Solomon Northup), o filme lembra-nos o drama e
sofrimentos vividos pelos negros nos anos 1850 nos EUA. Um argumento de elevada
intensidade dramática, capaz, no final, de nos catapultar para a celebração do
regresso de um ser humano à liberdade. Infelizmente, no neoliberalismo actual,
existe um tipo de ‘neoescravatura’ que as gerações mais jovens terão de
combater, sob pena de se sujeitarem a sofrer em crescendo agravados castigos e dores com mais sofisticadas chibatadas - isto, nas sociedades ditas mais desenvolvidas.
No 'Clube de Dallas', à semelhança de
‘Fiel Jardineiro’ no que respeita à protecção de interesses espúrios da
indústria farmacêutica e respectivos ‘lobbies’, o FDA (Federal Drugs Agency) que apenas aprova para a
SIDA o AZT, de enorme toxicidade e de efeitos colaterais graves, dá aso à
importação clandestina do México de um medicamento alternativo e menos
agressivo. Um seropositivo conhecido por Ron (McConaughey), heterossexual, na luta pelo prolongamento da vida,
faz a introdução clandestina e monta o negócio nos EUA, sob o formato do 'Clube de Dallas' que vive da quotização de $ 400,00 mensais de quem acede ao medicamento. Homofóbico, acaba, no
entanto, por partilhar a casa com um transsexual Rayon (Jared Lero). São duas interpretações
excepcionais merecedoras dos Óscares; embora Leonardo Di Caprio, em ‘Lobo de
Wall Street’, também tenha uma representação extraordinariamente empolgante.
Se houve ano de bons filmes, este
foi um deles. Jamais poderei esquecer ‘Filomena’, embora reconheça que, para a
história de uma monstruosidade real e criada no seio da ICAR, tem um ritmo desnecessariamente fleumáutico, faltando-lhe, pois, chama e vitalidade. E o enredo
exige estas características. De qualquer forma, o filme, produzido pela BBC,
inseria-se na categoria de filmes estrangeiros.
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