A Juventude dos 18 aos 29 anos
Somos o 4º país da UE na
proporção de jovens que vivem em privação extrema, de acordo com dados do ‘Eurofound’
revelados pelo ‘Público’.
O facto de tantos jovens viverem
em condições penosas, e porque a larga maioria está instalada em casa dos pais,
traduz em simultâneo a ‘privação extrema’ de milhares de famílias portuguesas.
De resto, a conclusão é coerente com a informação de há dois dias do INE
de 18,7% da população portuguesa viver em condições de pobreza em 2012, ano
posterior ao final do estudo do ‘Eurofound’ (2011) e no qual houve um
agravamento do risco de pobreza de 0,8%. Também não é despiciendo saber que a
taxa de desemprego de jovens dos 18 aos 29 anos tenha atingido em Portugal, no
ano de 2011, o valor de 30,1%.
O desemprego dos menos jovens
Se o ‘Eurofound’ complementar o
estudo com a análise de outros segmentos etários pós-29 anos, e em especial o
número de desempregados de longa duração de idades superiores a 35 anos,
teríamos, então, a informação da dimensão da desgraça que impende sobre
milhares e milhares de famílias portuguesas.
O diagnóstico
O diagnóstico exacto dos que
vivem em condições de desemprego, de baixos rendimentos (cerca
de 80% de pensionistas – mais de 1.400.000 de pessoas – vivem com uma reforma
média de 364 euros mensais) e de outros que vivem da caridade
institucionalizada através do Banco Alimentar, Cáritas, IPSS e outras organizações
menos formais, esse diagnóstico levaria a concluir a gravidade da situação económico-social
em que milhões de portugueses estão mergulhados.
Relativamente aos jovens com a permanência
prolongada em casa dos pais, o sociólogo Elísio Estanque, que respeito, de
forma vaga, atribui responsabilidades a um conjunto de “pontas soltas que vão contribuir para o mesmo efeito”. Usar uma
vacuidade mais vácua que esta é impossível.
O diagnóstico tem de ser mais
objectivo e sólido. Consideremos outros estudiosos, entre os quais André Gorz. Falecido, deixou
um legado de análises que subsistem plenas de actualidade e que, em vez de ignoradas,
constituem uma obra a lembrar e a aprofundar; na linha, aliás, das teses de Jeremy
Rifkin, com destaque para o seu livro “The End of Work”.
As novas tecnologias e a automatização,
se louváveis pelo valor no progresso humano, têm tido o efeito de reduzir os efectivos
de trabalhadores assalariados e os valores dos salários. O efeito, à escala da
economia mundial, é caracterizado por intensa diminuição de ‘trabalhadores na
esfera económica’, criando um exército de marginalizados da Economia que, na
procura de meios mínimos de subsistência, se dedicam, na parte dos que
encontram essa alternativa, à prestação de serviços necessários ao lazer dos
que têm trabalho na Economia real, bem como outros de carácter periférico como
a restauração, o trabalho doméstico, a puericultura e demais actividades que,
na verdadeira acepção, não estão integradas no sistema económico. Sem o dizer,
é a consequência desta expulsão da Economia que o Eurostat
denuncia a transformação, associada à deslocalização de indústrias para
países asiáticos de mão-de-obra explorada a baixíssimos salários. Justifica-se,
assim, o desemprego de 10,5% em 2012, um record, na União Europeia.
A agravar tudo isto temos um ‘sistema
financeiro internacional’ favorável à criação de fortunas fabulosas por meia-dúzia de multimilionários, beneficiários de abjectas facilidades, entre as
quais a evasão fiscal institucionalizada e as ‘offshores’.
Tudo isto e muito mais são veios
do neoliberalismo triunfante do FMI, da CE, do BCE e, se individualizarmos por
países, de Merkel a Coelho e Portas. Obama também não escapa.
O sistema baqueou. Que se salve a
banca e que se lixem os cidadãos!
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