A fracção de segundos que mediaram entre o pontapé Moutinho e a defesa Casillas é o instante em que as alegrias e esperanças de um povo se desvanecem. Igual juízo se pode formar do remate de Bruno Alves à trave.
A vida individual e colectiva está, com frequência, submetida ao desígnios do tempo e do espaço, muitas vezes interpretados como factores de sorte e azar. Também no futebol.
Todavia, ontem contra Espanha, as ilações do desenrolar e desfecho do jogo, em minha opinião, não podem cingir-se a episódios dessa natureza, por muito decisivos em que os penáltis se tenham transformado.
Portugal, na primeira parte, dominou o adversário. Em particular, através de Moutinho, Veloso e Meireles, coadjuvados, e de que maneira!, por Pepe, Bruno Alves e Coentrão. O problema foi lá à frente, com Ronaldo e Hugo Almeida. Nos remates à baliza de Casillas falharam.
Antes dos penáltis, as dificuldades dos portugueses agravaram-se quando Del Bosque fez entrar Pedro Rodriguez e passou a sufocar-nos com as fífias de João Pereira que, desde sempre e mais uma vez o demonstrou, não tem qualidades para ser seleccionado, muito menos titular – Nani estoirou, no vai-e-vem constante de recorrente auxílio ao débil defesa-direito.
Esta foi para mim a história do jogo. Considerações de Pinto da Costa ou de Pedro Santos Guerreiro não contam para a disputa. São desabafos à portuguesa, viciados por subjectividade de um tipo de cultura histórica judaico-cristã, ignorando o imperativo da objectividade.
O essencial é avaliar com imparcialidade e distanciado do acessório o que se passa dentro do rectângulo. Sem favorecer ou atender a quem esteja excluído do tempo e do espaço do jogo. De sarilhadas, estamos saturados.
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