‘O trabalho “deixou de proteger as pessoas” da pobreza’ é o título do ‘Público’ on-line, a propósito da comunicação de Agostinho Rodrigues Silvestre no VII Congresso Português de Sociologia, a realizar no Porto, de 4.ª a 6ª feira da próxima semana. Estarão presentes Mário Soares e Manuel Carvalho da Silva.
A redução da incorporação do factor trabalho e consequentemente da alteração de rendimentos do sector produtivo a favor do capital não constituem fenómenos recentes. Já haviam sido há muito denunciados pelo economista norte-americano Jeremy Rifkin, em ‘O Fim do Trabalho’. Concretamente em 1995 – “The End of Work: The Decline of the Global Labor Force and the Dawn of the Post-Market Era”.
Dessa obra de visão precoce, estruturalmente documentada e concisa, que li em finais do século passado, lembro algumas provas categóricas do rigor das análises do autor:
- A mecanização da agricultura nos EUA, nomeadamente na produção de algodão, conduziu à libertação de enormes excedentes de mão-de-obra que emigraram para a região de Chicago, ingressando na indústria automóvel;
A obra de Rifkin, estúpida ou deliberadamente desprezada por muitos políticos e economistas, teve o enorme mérito de demonstrar prematuramente que, por força das novas tecnologias e da automatização, a economia estava a sofrer profundas transformações em detrimento do trabalho, compensadas por acréscimos de mais-valias do factor capital.
Rifkin detectou, então, as causas. Políticos actuais, embora adversários do neoliberalismo que persegue metas de crescimento de competitividade, do PIB e da flexibilização das lei laborais, mostram-se no presente revoltados com os efeitos quando nunca cuidaram a tempo de conceber e políticas em resposta a tais causas – oneração fiscal e social de rendimentos excessivos que, sem penalizações, geraram o sistema financeiro perverso e severo, razão da desigualdade que afecta muitos milhões de cidadãos do mundo.
Como o erro de tais políticos já não bastasse, na opinião pública e até na blogosfera eclodem as mais estrambólicas opiniões que, à boa maneira judaico-cristã, se centram no acessório, ignorando o essencial. É o suco da má-fé ou da ignorância. É o que menos conta para qualquer estudo sério do tema.
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